quinta-feira, 22 de março de 2012

O "tanquinho 4"

O mecanismo dele é bem simples, não precisa de tanta tecnologia para funcionar, mas lava tão bem quanto uma máquina super potente e tecnológica, com minha ajuda é claro, mas lava bem. Digamos que seu mecanismo seja o seu organismo (saúde), ele necessita do motor funcionando bem para viver, assim como nós. A água é um item fundamental para dar continuidade ao seu dia a dia, como as nossas necessidades vitais. E as roupas são as necessidades psicológicas fundamentais para o nosso "eu" sobreviver, assim como pra ele é o porque dele existir.
Antes de lavar separo peças brancas, escuras e íntimas (toalhas e etc). E posso detalhar para vocês as roupas da minha vida, as brancas são a família, meu amor, meus amigos, reparem que as roupas brancas usamos alvejante além do sabão em pó, como um tratamento zeloso, diferenciado, no término ficam branquinhas, com a aparência de pureza, limpeza excessiva, transborda luz. As escuras são pessoas que nos magoam, não deixamos de cuidar, porque mesmo que triste, ainda estão em nosso coração, reparem que elas costumam soltar uma tinta, é como se sempre quiséssemos retirar aquela dor, mas toda vez que a lavamos ela continua a soltar até o dia em que desbota de vez de nossa vida. diferente das brancas que podem até manchar, mas estão ali sempre claras e puras. As íntimas somos nós mesmos, percebam que a necessidade de obter higiene total nelas é bem maior, também olhem para o fato de que algumas roupas escuras ou brancas podemos utilizar mais vezes é só ter cuidado, as intimas não. Assim como nós que temos a necessidade de nos reciclar a todo momento, nos purificar de aborrecimentos, raiva, chateações. Tem pessoas que colocam tênis no tanquinho podendo até o quebrar de tão frágil que ele é. O Tênis não passa de nossa dor gritante, aquela que chamamos de raiva, vingança, assim como o ataque agressivo a sua fragilidade, esses sentimentos sempre impõem risco a nós mesmos, mesmo que a raiva seja de outra pessoa, ela nos abala tanto quanto o tênis que está lá dentro. Quando quebra, é o tanquinho que sofre abalos, não o tênis. É tão simples usar o tanquinho como viver nossa vida. Quando pegamos o manual é preciso olhar somente o que não podemos fazer, como verificar a voltagem, quantidade de peso e etc...Assim como em nosso cotidiano, quando nos machucamos em algum lugar ou momento, com pessoas. Ali não devemos mais mexer. Sabemos o que não queremos, mas muito pouco sabemos o que realmente queremos, já que a vida de tão simples não traz manual de uso.
Sem a eletricidade ele não funcionaria, ela é a espiritualidade, Deus. o fio que faz o transporte dela pra vida é o dom, a ligação. E a água que sai do tanquinho limpa ou suja, é a minha história. Simplesmente viva com simplicidade!

O tanquinho 3: Todo mundo tem um "tanquinho" em suas vidas.

Enquanto o fazia companhia em uma de suas lavagens, tentava me lembrar dos "tanquinhos" que tive em minha vida, ou seja, paixões, objetos de valor quase humano. Parece engraçado, mas não é? É fato e vou fazer vocês relembrarem desses valores em suas vidas através de alguns que tive. Na minha adolescência tive uma mochila de cor verde escuro, ela era estilo montanha, bonita, não tão grande e bem prática, o bonita acabou cedo, como usava muito, ela ficou feiosinha precocemente, mas amava tanto aquela mochila que fui capaz de guarda-la por muitos anos mesmo sem poder usa-la, já que estava rasgada, desbotada e tudo o mais. Eu me sentia poderosa com ela, juntas éramos o par perfeito. A pouco tempo tomei coragem e a enterrei. Outra valor que tive em minha vida foi um tênis olympikus preto, ele era bem simples, usava para ir para a escola, imaginem que como qualquer tênis sendo usado todos os dias, desgastou rápido, mas pra mim ele durou muitos anos, chegou uma época que ele estava tão apertado em meus pés que começou a furar do ladinho, mesmo assim o usava, quando a cor dele de preta ficou cinza rabiscado, decidi modernizar, pedi ao meu pai para comprar uma latinha de tinta para pintar meu tênis, vocês devem achar uma loucura isso, mas digo que loucura é usar a latinha para pichar muro, então jovens, pichem seus tênis, mas não pichem as paredes, porque é feio. Voltando ao assunto, pintei meu tênis, ficou lindo, cromado. coloquei cardaço branco, ficou mais estiloso ainda, usei por bastante tempo depois disso, até rasgar de vez e o dedinho ficar dando "oi" a luz do dia. Igualmente a mochila, ele ficou guardado por mais um tempo no armário, até o dia em que outro guerreiro entrou em seu lugar. Foi um estilo montanha todo lindão, esse durou menos tempo, a sola tava querendo se separar do tênis por motivos íntimos entre os dois. Aff. Eu andava tanto com ele, que meus pés estranhavam qualquer outro tipo de sapato, tênis, chinelo, até o chão. Outra paixão foi um perfume baratinho que comprei na farmácia em uma época de "vacas magríssimas". Sempre gostei de andar cheirosa de verdade, então mesmo que não pudesse comprar um água fresca da boticário nem um kriska da Natura, eu comprava um alfazema na farmácia que era o cheirinho mais agradável dos perfumes baratos que conhecia por lá. Na época que comprei me sentia maravilhada quando colocava ele para sair de casa, mesmo que não durasse muito em meu corpo, nem duas horas, eu ficava saltitante no momento em que colocava, esse teve vida curta, um desavisado deixou ele cair, não sobrou nem uma gota para contar história, eu fiquei tão triste, tão triste que resolvi ficar sem perfume mesmo, me resume em desodorante e sabonete mesmo, nesta época lavava o cabelo com sabonete mesmo, porque não tinha dinheiro para comprar shampoo e condicionador, como sempre flexível a vida, me acostumei com a necessidade, tornei-a costume e vantagem, pois adorava meu cabelo no estilo black power, era assim que ele ficava de tão ressecado. Enfim, não são só pessoas que passam em nossas vidas e deixam marcas, lembranças, objetos também. Como diz o poeta Gonzaguinha:
"Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita..."

Quem sabe o mistério da felicidade esteja neste caminho? Uma das melhores coisas da vida está exatamente em poder amar, reconhecer o valor em tudo que te faz bem desde um simples tanquinho a muitas pessoas.

O "tanquinho 2"

Enquanto lavava as roupas, escutava um barulho estranho, pensei "Será que ele está indo embora?". Tentei puxar algumas roupas que estavam sendo lavadas, para achar o problema, como a esperança de que não seria nada, mas ele continuava fazendo o barulho. Desesperada com medo de perder o honorável tanquinho, apalpei a cadeira que estava atrás de mim em busca de sentar para relaxar e pensar no que estava acontecendo, o que poderia estar ocasionando. Fiquei alguns minutos na mesma posição de cabeça baixa e pensando "o que será de mim sem meu amigo". Em um piscar decidi me levantar e me conformar com a perda precoce do meu fiel amigo. Fui até as outras pessoas que estavam em casaMaria Lúcia Bosco e Gabriela Rodrigues de Oliveira para avisar sobre seu estado. E voltei a cozinha para retomar as tarefas. Quando terminou a lavagem, comecei a me despedir dele em pensamento, retirando as roupas e espremendo-as lentamente. Depois de estende-las coloquei a mangueirinha no ralo para descer a água e retornei a fazer as tarefas, depois de um tempinho voltei para limpa-lo e tive um surto de euforia. Vi moedinhas no fundo dele. Elas que estavam fazendo o barulho. Isso exemplifica a teoria de realismo que muitos confundem com pessimismo, exemplo pequeno e simples que mostra a capacidade de entender a perda provável em geral e saber lidar com ela, esperando o melhor, claro. Nesse caso a melhor das expectativas reinou, ele não "bateu as botas", continuou a "dançar com elas".

O "tanquinho"

Ele é barato, não tem um motor potente, as vezes esgaça as roupas e faz um barulho irritante. Eu sei, ele é "feinho", tão leve, que poderia carrega-lo nas costas como carregaria uma mochila. Por tantas vezes o defendi de julgamentos, preconceitos por ele ser tão humilde, por ele não ser uma super máquina de lavar e não ter funções automáticas. Eu também sei que a minha coluna não fica muito feliz de ter que descer a mangueira para tirar a água e recolocar em uma posição levantada para enche-lo, assim como minhas mãos odeiam ter que torcer a roupa para estender. Ele não é de uma grande marca de lavadoras, é de uma grande marca para exaustor. Embora ele seja assim, simples, pouco prático e as vezes rebelde destruindo algumas roupas quando coloco no ultimo nível, eu posso dizer que o adoro. Comprei em uma época "brabona" como diz minha amiga Angélica R. Oliveira e "piriquitante" como diz minha prima Raffaela Bosco. Nessa época não tinha dinheiro para comprar uma máquina melhor, e não me arrependo de ter comprado o honorável "tanquinho", ele foi comprado com um dinheiro suado, cuido muito bem dele. Hoje posso comprar uma máquina com melhores funções e marca, mas mesmo que um dia quisesse não teria coragem de fazer isso, da mesma forma que não consigo deixar de ser humilde e ter dignidade. Se um dia ele se for, estarei preparada para comprar outra lavadora ou máquina, sempre com humildade, dando valor ao que pude conquistar!